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Na semana passada, a oposição síria 
anunciou um massacre de civis pelas forças do governo. Na vila de 
Tremseh, cerca de 200 civis teriam sido assassinados pelo exército e 
milicianos pró-Assad. Muitas das vítimas teriam recebido tiros à queima 
roupa e facadas. 
 
Hillary
 Clinton logo clamou que já era demais, as atrocidades do regime Assad 
passavam da conta. O governo do socialista(?) Hollande reiterou a 
necessidade de uma intervenção militar. Até Ban-Ki-Moon embarcou nessa, 
criticando o Conselho de Segurança (leia-se Rússia e China) por não 
tomar medidas rigorosas contra o ditador. 
 
A
 grande mídia dos EUA e da Europa Ocidental, ecoada pela nossa, espalhou
 para suas centenas de milhões de leitores mais esta informação das 
barbaridades de Assad, estimulando a indignação universal. 
 
Só que não era exatamente informação: tratava-se somente de propaganda. E quem desmitificou tudo foi nada menos do que o New York Times. 
 
Na
 sua edição de 14 de julho, publicou uma reportagem que dizia o 
seguinte: “Embora o que realmente aconteceu em Tremseh permaneça 
nebuloso, as evidências disponíveis sugerem que os eventos de 
quinta-feira estavam mais perto de terem acontecido conforme a versão do
 governo”. 
 
E
 a versão do governo era de que fora uma batalha entre forças leais e 
forças rebeldes que causara as vítimas. Fato posteriormente confirmado 
por uma equipe de experts enviada pela ONU, que afirmou ter o exército 
do governo centrado seu fogo sobre casas onde estavam rebeldes armados e
 desertores. 
 
Lembro
 que no mês passado, episódio semelhante aconteceu na cidade de Houla. 
Lá, cerca de 200 pessoas foram mortas por tiros à queima roupa e 
facadas, segundo a versão dos oposicionistas, logo encampada pelo 
Ocidente e pela grande mídia, e os autores teriam sido milícias 
pró-governo. E o mundo inteiro tremeu de horror e ira diante desse novo 
massacre perpetrado por gente de Assad. 
 
Graças
 ao jornal Frankfurter Allgemene Zeitung, provou-se que, mais uma vez, a
 máquina de comunicação ocidental fizera propaganda disfarçada de 
informação. 
 
Na
 verdade, o que a reportagem desse jornal alemão verificou foi que as 
vítimas eram partidárias de Assad. Portanto, as chances eram de que seus
 algozes fossem milícias da oposição. 
 
Tanto
 nesse caso como no de Tremseh, o destaque dado à retificação pelas 
mídias internacional e local foi mínimo. Insignificante diante da massa 
de veiculações por jornais, TVs, rádios e internet da informação 
mentirosa. 
 
Os
 estadistas ocidentais não tiveram escrúpulos em mentir ou, pelo menos, 
aceitar uma informação duvidosa. Se fossem realmente honestos não 
poderiam aceitar informações dos rebeldes, parte interessada em sujar a 
imagem de Assad, sem fazer uma verificação cuidadosa. Foram ainda mais 
inescrupulosos por não admitirem seu erro. 
 
Depois
 dessas flagrantes mentiras, ficamos sem saber até onde se pode 
acreditar no que afirmam os líderes do Ocidente e a grande mídia. Parece
 evidente que Assad desde o início dos protestos tem usado de meios 
brutais para conter a oposição. 
 
Assim o afirmam ONGs respeitáveis como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional. 
E a ONU no combate de Tremseh, embora admitindo que o exército do 
governo não massacrou intencionalmente civis inocentes, protestou contra
 o uso de armamentos pesados contra uma região habitada. 
  
Mas também sabemos que a 
oposição cometeu atentados à bomba contra edifícios públicos e ações 
violentas. Afinal, a Al-Qaeda faz parte de sua coalizão. 
  
Está claro que os EUA e sua fiel
 Europa Unida desejam, antes de mais nada, a queda do regime Assad, para
 ficarem livres do maior aliado do Irã na região. A paz parece 
secundária para eles. 
 
Para
 a Rússia também, pois só aceita um acordo se Assad topar, pois tem com 
seu regime importantes interesses econômicos e militares – há uma base 
russa no litoral sírio. 
 
Tudo
 o que todos estes estadistas falam a respeito da questão tem um viés 
claro. E a mídia ocidental (provavelmente também a russa) não hesita em 
mostrar os fatos de acordo com os interesses de seus países. 
 
Infelizmente,
 uma frase do dramaturgo grego Ésquilo, do quinto século antes de 
Cristo, continua válida: “Nas guerras, a primeira vítima é a verdade”. |