ESCRITO POR LUIZ EÇA |
SEXTA, 20 DE JULHO DE 2012 |
Na semana passada, a oposição síria
anunciou um massacre de civis pelas forças do governo. Na vila de
Tremseh, cerca de 200 civis teriam sido assassinados pelo exército e
milicianos pró-Assad. Muitas das vítimas teriam recebido tiros à queima
roupa e facadas.
Hillary
Clinton logo clamou que já era demais, as atrocidades do regime Assad
passavam da conta. O governo do socialista(?) Hollande reiterou a
necessidade de uma intervenção militar. Até Ban-Ki-Moon embarcou nessa,
criticando o Conselho de Segurança (leia-se Rússia e China) por não
tomar medidas rigorosas contra o ditador.
A
grande mídia dos EUA e da Europa Ocidental, ecoada pela nossa, espalhou
para suas centenas de milhões de leitores mais esta informação das
barbaridades de Assad, estimulando a indignação universal.
Só que não era exatamente informação: tratava-se somente de propaganda. E quem desmitificou tudo foi nada menos do que o New York Times.
Na
sua edição de 14 de julho, publicou uma reportagem que dizia o
seguinte: “Embora o que realmente aconteceu em Tremseh permaneça
nebuloso, as evidências disponíveis sugerem que os eventos de
quinta-feira estavam mais perto de terem acontecido conforme a versão do
governo”.
E
a versão do governo era de que fora uma batalha entre forças leais e
forças rebeldes que causara as vítimas. Fato posteriormente confirmado
por uma equipe de experts enviada pela ONU, que afirmou ter o exército
do governo centrado seu fogo sobre casas onde estavam rebeldes armados e
desertores.
Lembro
que no mês passado, episódio semelhante aconteceu na cidade de Houla.
Lá, cerca de 200 pessoas foram mortas por tiros à queima roupa e
facadas, segundo a versão dos oposicionistas, logo encampada pelo
Ocidente e pela grande mídia, e os autores teriam sido milícias
pró-governo. E o mundo inteiro tremeu de horror e ira diante desse novo
massacre perpetrado por gente de Assad.
Graças
ao jornal Frankfurter Allgemene Zeitung, provou-se que, mais uma vez, a
máquina de comunicação ocidental fizera propaganda disfarçada de
informação.
Na
verdade, o que a reportagem desse jornal alemão verificou foi que as
vítimas eram partidárias de Assad. Portanto, as chances eram de que seus
algozes fossem milícias da oposição.
Tanto
nesse caso como no de Tremseh, o destaque dado à retificação pelas
mídias internacional e local foi mínimo. Insignificante diante da massa
de veiculações por jornais, TVs, rádios e internet da informação
mentirosa.
Os
estadistas ocidentais não tiveram escrúpulos em mentir ou, pelo menos,
aceitar uma informação duvidosa. Se fossem realmente honestos não
poderiam aceitar informações dos rebeldes, parte interessada em sujar a
imagem de Assad, sem fazer uma verificação cuidadosa. Foram ainda mais
inescrupulosos por não admitirem seu erro.
Depois
dessas flagrantes mentiras, ficamos sem saber até onde se pode
acreditar no que afirmam os líderes do Ocidente e a grande mídia. Parece
evidente que Assad desde o início dos protestos tem usado de meios
brutais para conter a oposição.
Assim o afirmam ONGs respeitáveis como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional.
E a ONU no combate de Tremseh, embora admitindo que o exército do
governo não massacrou intencionalmente civis inocentes, protestou contra
o uso de armamentos pesados contra uma região habitada.
Mas também sabemos que a
oposição cometeu atentados à bomba contra edifícios públicos e ações
violentas. Afinal, a Al-Qaeda faz parte de sua coalizão.
Está claro que os EUA e sua fiel
Europa Unida desejam, antes de mais nada, a queda do regime Assad, para
ficarem livres do maior aliado do Irã na região. A paz parece
secundária para eles.
Para
a Rússia também, pois só aceita um acordo se Assad topar, pois tem com
seu regime importantes interesses econômicos e militares – há uma base
russa no litoral sírio.
Tudo
o que todos estes estadistas falam a respeito da questão tem um viés
claro. E a mídia ocidental (provavelmente também a russa) não hesita em
mostrar os fatos de acordo com os interesses de seus países.
Infelizmente,
uma frase do dramaturgo grego Ésquilo, do quinto século antes de
Cristo, continua válida: “Nas guerras, a primeira vítima é a verdade”.
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quarta-feira, 25 de julho de 2012
Primeira vítima: a verdade!
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