sexta-feira, 7 de novembro de 2014

NÃO HÁ ESCOLHAS: É FAZER OU FAZER...
(Resposta a Wilson Risolia)

...O QUE QUALQUER UM, MESMO NÃO SENDO E NÃO ENTENDENDO DO FUNCIONAMENTO DE UMA ESCOLA PÚBLICA, MANDAR. POIS, ESTÁ SENTADO NA CADEIRA DE SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO!

Os professores, ou educadores como muitos foram denominados e/ou se autodenominaram assim como profissionais, bem como pais e alunos das escolas estaduais do estado do Rio de Janeiro realmente não têm escolhas. Não há e não houve diálogo com o secretário de educação. Em nome de um índice, pioraram muito as condições de trabalho e alijaram muitos alunos do direito de estudar. Contudo, aparentemente de saída deste novo governo do PMBD, o ainda secretário resolve soltar uma nota em dois jornais de grande circulação contando seus grandes, heroicos e quase santos feitos para a educação. Mas, como professor de profissão, educador por questões morais e, acima de tudo, cidadão, devo tentar fazer alguns contrapontos à verdade absoluta postada nesses jornais.
Vejamos:
“Por muitos anos o Estado do Rio figurou entre os piores no ranking da Educação. Mas, por não aceitarmos que o natural fosse obtermos sempre os piores resultados, e por acreditarmos em nossos professores e alunos, trabalhamos na busca de melhores condições para esses protagonistas. Não resgatamos todos os jovens, mas resgatamos muitos. Não fizemos tudo, mas fizemos muito.”
Pra começar, ele não acreditou e nem acredita nos professores e nem nos alunos. Sabem por que? Porque este ranking a qual ele se refere é baseado no IDEB. Este índice, por sua vez, leva em consideração a média em uma provinha (SAEB ou Prova Brasil) e indicadores que estão diretamente relacionados com aprovação e evasão escolar descritas no Censo do ano anterior. Então, a lógica foi simples: a questão não foi melhorar o ensino e condições de atuação do professor ou o ensino do aluno, simplesmente colocou-se em prática uma política nada-pedagógica que restringe o universo avaliado pelo IDEB, com uma clara estratégia para melhorar artificialmente as notas dos alunos das escolas da rede estadual. Esta política, inclusive, foi anunciada pelo próprio secretário estadual de Educação, Wilson Risolia nas audiências públicas realizadas pela Comissão de Educação e Cultura da Alerj e também em reuniões com o Sepe ao longo do ano de 2012. Risolia, nesses encontros, esclarecia de que maneira o Estado atuaria para melhorar as notas do IDEB: retirando do ensino regular os alunos que tinham idade acima da média escolar e transferindo-os para o Novo Ensino de Jovens e Adultos (NEJA) e implementação do Projeto Autonomia (que utiliza a metodologia de Telecursos da Fundação Roberto Marinho) – tanto o NEJA quanto o Autonomia não são avaliados pelo IDEB.
Com isso, um estudo feito pelo INEP mostra que o estado do Rio de Janeiro teve o maior declínio percentual de matrículas na educação básica de todas as redes públicas do Brasil, caindo de 1,5 milhão para 973 mil, uma redução de 34,7%, ou 537 mil matrículas. "O mais grave é que o Rio de Janeiro é o único estado em que a rede privada, com 1,049 milhão de matrículas, era, em 2012, maior do que a estadual", explica ele. A média nacional das redes estaduais era em 2012, 2,5 maior do que as privadas. Na região sul, este número chega a ser 3,5 vezes a mais” (fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br/index2.php?Area=Noticia&Num=871). Esse feito em prol das escolas privadas ele não deu alarme. E muitas escolas públicas (na mesma proporção em que se diminuiu o número de matrículas) foram fechadas sumariamente. Ou seja, a lógica é simples: jogamos os “problemáticos que não damos conta” para uma outra modalidade se eles quiserem ir, muitos não vão, simplesmente param de estudar, e assim melhoramos nossos índices. E ainda, fechando escolas, não há evasão e nem falta de professores, correto?... Mais de 150 escolas fechadas... Realmente fizeram muito... Inclusive bater e jogar gás de pimenta nos professores que tentaram denunciar essa mazela para a sociedade. Ele continua a sua exposição falando de salários, benefícios para uma parcela mínima de alunos até chegar nesta parte, pra mim enquanto conhecedor da minha profissão, a pior e mais danosa para a profissão de professor.
Comentarei cada parágrafo desta passagem horrível para a história da educação fluminense.

“Não podemos mais perder tempo. Precisamos de jovens que se sintam artífices do próprio futuro. Temos que sair do discurso contaminado por ideologias. Mais recursos são bem-vindos. Mas, sem melhor geri-los, é permanecer com a retórica.
Ideologia é doença? Não é isso que nos move, um ideal? Isso é educar caríssimos! Dar uma perspectiva através de um ideal. Isto não é retórica. Retórica é dizer-se democrático e ditar ordens como se suprassumo fosse nos assuntos educacionais. Contaminação é esta política de servir aos interesses privados, com a desculpa de diminuir o estado e causando um péssimo serviço público prestado à sociedade. Basta percorrer as escolas e perguntar diretamente aos alunos e professores sobre suas condições de trabalho. Doença é esta mania de fazer com que os servidores e cidadãos sejam os únicos que devem cumprir as legalidades e o poder público não precisa, pois, é ele quem “manda” (quem deveria mandar é o público). Até hoje, por exemplo, não se discute normas de ruídos, temperatura e espaço de aula previstos na ABNT como condições sine qua non de qualidade nas escolas. E nem se fala no cumprimento do 1/3 da carga horária já definida e aceita até pelo Supremo... É essa a real contaminação ideológica que vem permeando a educação do Rio de Janeiro na gestão desse economista.

É preciso ter foco e gestão. O discurso de que só pedagogos e educadores entendem de educação nada mais é do que um pré-conceito que, como de praxe, não leva ninguém a lugar algum. Ser um gestor, estudar, dedicar tempo e aprofundar-se no tema, sem ser um “pedagogo-educador”, parece um pecado neste país. Os pré-conceitos levam a desentendimentos.
Todos entendemos de medicina? Todos entendemos de economia? Todos entendemos de direito? Acredito que os médicos, economistas e advogados que estudaram e ganharam experiência trabalhando, principalmente em se tratando de serviços públicos, são sim os mais indicados para mostrar os caminhos para minimizar as mazelas de suas profissões. Mas, a educação, ah... a educação... Qualquer um que cair de paraquedas e estudar um pouquinho de nada pode ser um ótimo gestor educacional. Não aceitar isso é preconceito, viu? Será!
Pessoas dão o sangue, se formam, tornam-se especialistas, fazem um concurso disputadíssimo, trabalham, ganham experiência, aprendem sobre suas posições dentro do serviço público, lutam por uma prestação de serviço melhor e... Não! Eles não são os mais aptos para gerir eles mesmos. Isso é o que pensa o secretário de educação em relação somente à educação. Pois, garanto, que ele não sugeriria um pedagogo para comandar a Caixa Econômica Federal, justamente por todos os motivos que listei anteriormente. É um embuste esse discurso! 
A Educação precisa desprender-se de pré-conceitos. Ações são necessárias. Não é mais aceitável o discurso dos que se dizem especialistas, que militam na área por anos e se elegem sob o manto da “defesa da educação pública de qualidade”, mas não elaboraram políticas públicas educacionais que funcionem. Para isso, há que se traçar um diagnóstico, sem pré-conceitos, para atacar o problema. Fizemos isso no Rio. Hoje, conhecemos o problema.
A educação, há muito, já se despiu de pré-conceitos. Temos muitos conceitos formados. Já foram elaborados muitos planos para a educação funcionar, mas, nenhum foi colocado em prática pelos governos que aí estiveram e estão, principalmente, depois da democratização. Os diagnósticos são feitos cotidianamente e com dados bastante precisos, mas, não são levados em consideração pelas “autoridades” educacionais empossadas. Por isso eles ficaram no discurso. A culpa por isso ainda acontecer é de quem detém o poder, não de quem luta para que isso se torne realidade. Só se pensa no PISA, essa é a verdade. Que declaração de fanfarrão! 
Ter pré-conceitos com o currículo mínimo, a meritocracia e as avaliações diagnósticas — ações bem-sucedidas aqui e em qualquer parte do mundo — não contribui. As ações não podem ser em defesa de interesses próprios e corporativos, sindicalizados e contaminados politicamente. Substituir um diretor de escola não pode ser um ato político, mas sim de gestão.
Mais uma vez, não existem pré-conceitos sobre o currículo mínimo, nem sobre a meritocracia e nem sobre as avaliações diagnósticas. O que existe são CONCEITOS formados por muitos estudiosos, especialistas em suas áreas de atuação, sobre esses assuntos. Os PCNs já existem, e respeita-se a aplicação em cada localidade, méritos num estado de municípios tão desiguais é demérito, e isto é fato; e avaliações diagnósticas ou provas? E para que elas servem? Ranquear? Isso, sem levar em consideração nem o IDH de cada região, já foi muito debatido e rechaçado. Aliás, a “criadora/defensora”-mor da meritocracia americana diz, arrependida, que foi a pior coisa que ela fez para a educação. Leia este valioso artigo ou leia o livro dela (The Death and Life of the Great American School System): http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,nota-mais-alta-nao-e-educacao-melhor-imp-,589143. E isso é sucesso? Basta um pequeno estudo junto aos conselhos de educação e aos acadêmicos. Afinal de contas, para que eles servem? Quando se fala em ações em interesse próprio e contaminado, ele deve estar falando dele mesmo. Basta ver o quanto a rede pública diminuiu e o quanto a rede privada aumentou. Mais uma vez, isso é sucesso? 
A quem interessa uma juventude perdida? A grupos que sobrevivem da ignorância alheia? Esses não querem ter foco nem gestão. Não temos, portanto, escolhas: é fazer ou fazer.
A ignorância de quem bate palmas para o que aconteceu na educação fluminense nos últimos anos a quem interessa? Porque justamente esse grupo que se perpetuou mais uma vez, chancelado pela última eleição, está sobrevivendo dela.
A escola é e sempre será um espaço político desde a sua criação na Grécia antiga!!! Todas foram chamadas a construir e reconstruir constantemente seu projeto-POLÍTICO-pedagógico que serve para nortear cada unidade escolar. Como assim o gestor não é uma questão política? Ele hoje é uma marionete político dos governos que os colocam em cada escola. Democracia também se ensina na escola! Essa construção acabou no Rio de Janeiro!!! Agora é o cumpra-se para que eu mostre meus números. Estão acabando com o espaço público de pensamento!!!
Mas, pode deixar, senhor Risole/Coxinha, a juventude não estará perdida enquanto houver professores antenados, preocupados e ativos que não deixem que esse tipo de ação ganhe a aprovação e a opinião da sociedade. Estamos de olho! E, nisso o senhor tem razão: é fazer ou fazer... a nossa parte!