NÃO HÁ ESCOLHAS: É
FAZER OU FAZER...
(Resposta a Wilson Risolia)
...O QUE QUALQUER UM,
MESMO NÃO SENDO E NÃO ENTENDENDO DO FUNCIONAMENTO DE UMA ESCOLA PÚBLICA,
MANDAR. POIS, ESTÁ SENTADO NA CADEIRA DE SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO!
Os professores, ou educadores
como muitos foram denominados e/ou se autodenominaram assim como profissionais,
bem como pais e alunos das escolas estaduais do estado do Rio de Janeiro
realmente não têm escolhas. Não há e não houve diálogo com o secretário de educação.
Em nome de um índice, pioraram muito as condições de trabalho e alijaram muitos
alunos do direito de estudar. Contudo, aparentemente de saída deste novo
governo do PMBD, o ainda secretário resolve soltar uma nota em dois jornais de
grande circulação contando seus grandes, heroicos e quase santos feitos para a
educação. Mas, como professor de profissão, educador por questões morais e,
acima de tudo, cidadão, devo tentar fazer alguns contrapontos à verdade
absoluta postada nesses jornais.
Vejamos:
“Por muitos anos o Estado do Rio figurou entre os piores no ranking da Educação. Mas, por não
aceitarmos que o natural fosse obtermos sempre os piores resultados, e por acreditarmos em nossos professores e alunos,
trabalhamos na busca de melhores condições para esses protagonistas. Não
resgatamos todos os jovens, mas resgatamos muitos. Não fizemos tudo, mas fizemos muito.”
Pra começar, ele não acreditou e
nem acredita nos professores e nem nos alunos. Sabem por que? Porque este
ranking a qual ele se refere é baseado no IDEB. Este índice, por sua vez, leva
em consideração a média em uma provinha (SAEB ou Prova Brasil) e indicadores
que estão diretamente relacionados com aprovação e evasão escolar descritas no
Censo do ano anterior. Então, a lógica foi simples: a questão não foi melhorar
o ensino e condições de atuação do professor ou o ensino do aluno, simplesmente
colocou-se em prática uma política nada-pedagógica que restringe o universo
avaliado pelo IDEB, com uma clara estratégia para melhorar artificialmente as
notas dos alunos das escolas da rede estadual. Esta política, inclusive, foi
anunciada pelo próprio secretário estadual de Educação, Wilson Risolia nas
audiências públicas realizadas pela Comissão de Educação e Cultura da Alerj e
também em reuniões com o Sepe ao longo do ano de 2012. Risolia, nesses encontros,
esclarecia de que maneira o Estado atuaria para melhorar as notas do IDEB:
retirando do ensino regular os alunos que tinham idade acima da média escolar e
transferindo-os para o Novo Ensino de Jovens e Adultos (NEJA) e implementação
do Projeto Autonomia (que utiliza a metodologia de Telecursos da Fundação
Roberto Marinho) – tanto o NEJA quanto o Autonomia não são avaliados pelo IDEB.
Com isso, um estudo feito pelo
INEP mostra que o estado do Rio de Janeiro teve o maior declínio percentual de
matrículas na educação básica de todas as redes públicas do Brasil, caindo de
1,5 milhão para 973 mil, uma redução de 34,7%, ou 537 mil matrículas. "O
mais grave é que o Rio de Janeiro é o único estado em que a rede privada, com
1,049 milhão de matrículas, era, em 2012, maior do que a estadual",
explica ele. A média nacional das redes estaduais era em 2012, 2,5 maior do que
as privadas. Na região sul, este número chega a ser 3,5 vezes a mais” (fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br/index2.php?Area=Noticia&Num=871).
Esse feito em prol das escolas privadas ele não deu alarme. E muitas escolas públicas
(na mesma proporção em que se diminuiu o número de matrículas) foram fechadas
sumariamente. Ou seja, a lógica é simples: jogamos os “problemáticos que não
damos conta” para uma outra modalidade se eles quiserem ir, muitos não vão,
simplesmente param de estudar, e assim melhoramos nossos índices. E ainda,
fechando escolas, não há evasão e nem falta de professores, correto?... Mais de
150 escolas fechadas... Realmente fizeram muito... Inclusive bater e jogar gás
de pimenta nos professores que tentaram denunciar essa mazela para a sociedade.
Ele continua a sua exposição falando de salários, benefícios para uma parcela
mínima de alunos até chegar nesta parte, pra mim enquanto conhecedor da minha
profissão, a pior e mais danosa para a profissão de professor.
Comentarei cada parágrafo desta
passagem horrível para a história da educação fluminense.
“Não podemos mais perder tempo. Precisamos de jovens que se sintam
artífices do próprio futuro. Temos que sair do discurso contaminado por ideologias. Mais recursos são bem-vindos. Mas, sem
melhor geri-los, é permanecer com a retórica.
Ideologia é doença? Não é isso
que nos move, um ideal? Isso é educar caríssimos! Dar uma perspectiva através
de um ideal. Isto não é retórica. Retórica é dizer-se democrático e ditar
ordens como se suprassumo fosse nos assuntos educacionais. Contaminação é esta
política de servir aos interesses privados, com a desculpa de diminuir o estado
e causando um péssimo serviço público prestado à sociedade. Basta percorrer as
escolas e perguntar diretamente aos alunos e professores sobre suas condições
de trabalho. Doença é esta mania de fazer com que os servidores e cidadãos sejam
os únicos que devem cumprir as legalidades e o poder público não precisa, pois,
é ele quem “manda” (quem deveria mandar é o público). Até hoje, por exemplo,
não se discute normas de ruídos, temperatura e espaço de aula previstos na ABNT
como condições sine qua non de qualidade nas escolas. E nem se fala no
cumprimento do 1/3 da carga horária já definida e aceita até pelo Supremo... É
essa a real contaminação ideológica que vem permeando a educação do Rio de
Janeiro na gestão desse economista.
É preciso
ter foco e gestão. O discurso de que só
pedagogos e educadores entendem de educação nada mais é do que um pré-conceito
que, como de praxe, não leva ninguém a lugar algum. Ser um gestor, estudar,
dedicar tempo e aprofundar-se no tema, sem ser um “pedagogo-educador”, parece
um pecado neste país. Os pré-conceitos levam a desentendimentos.
Todos entendemos de medicina?
Todos entendemos de economia? Todos entendemos de direito? Acredito que os
médicos, economistas e advogados que estudaram e ganharam experiência
trabalhando, principalmente em se tratando de serviços públicos, são sim os
mais indicados para mostrar os caminhos para minimizar as mazelas de suas
profissões. Mas, a educação, ah... a educação... Qualquer um que cair de
paraquedas e estudar um pouquinho de nada pode ser um ótimo gestor educacional.
Não aceitar isso é preconceito, viu? Será!
Pessoas dão o sangue, se formam,
tornam-se especialistas, fazem um concurso disputadíssimo, trabalham, ganham experiência,
aprendem sobre suas posições dentro do serviço público, lutam por uma prestação
de serviço melhor e... Não! Eles não são os mais aptos para gerir eles mesmos. Isso
é o que pensa o secretário de educação em relação somente à educação. Pois,
garanto, que ele não sugeriria um pedagogo para comandar a Caixa Econômica
Federal, justamente por todos os motivos que listei anteriormente. É um embuste
esse discurso!
A Educação
precisa desprender-se de pré-conceitos.
Ações são necessárias. Não é mais
aceitável o discurso dos que se dizem especialistas, que militam na área por
anos e se elegem sob o manto da “defesa da educação pública de qualidade”, mas
não elaboraram políticas públicas educacionais que funcionem. Para isso, há
que se traçar um diagnóstico, sem pré-conceitos, para atacar o problema.
Fizemos isso no Rio. Hoje, conhecemos o problema.
A educação, há muito, já se despiu
de pré-conceitos. Temos muitos conceitos formados. Já foram elaborados muitos
planos para a educação funcionar, mas, nenhum foi colocado em prática pelos
governos que aí estiveram e estão, principalmente, depois da democratização. Os
diagnósticos são feitos cotidianamente e com dados bastante precisos, mas, não
são levados em consideração pelas “autoridades” educacionais empossadas. Por
isso eles ficaram no discurso. A culpa por isso ainda acontecer é de quem detém
o poder, não de quem luta para que isso se torne realidade. Só se pensa no
PISA, essa é a verdade. Que declaração de fanfarrão!
Ter pré-conceitos com o currículo mínimo, a
meritocracia e as avaliações diagnósticas — ações bem-sucedidas aqui e em
qualquer parte do mundo — não
contribui. As ações não podem ser em
defesa de interesses próprios e corporativos, sindicalizados e contaminados
politicamente. Substituir um diretor de escola não pode ser um ato político,
mas sim de gestão.
Mais uma vez, não existem
pré-conceitos sobre o currículo mínimo, nem sobre a meritocracia e nem sobre as
avaliações diagnósticas. O que existe são CONCEITOS formados por muitos
estudiosos, especialistas em suas áreas de atuação, sobre esses assuntos. Os
PCNs já existem, e respeita-se a aplicação em cada localidade, méritos num
estado de municípios tão desiguais é demérito, e isto é fato; e avaliações
diagnósticas ou provas? E para que elas servem? Ranquear? Isso, sem levar em
consideração nem o IDH de cada região, já foi muito debatido e rechaçado.
Aliás, a “criadora/defensora”-mor da meritocracia americana diz, arrependida, que
foi a pior coisa que ela fez para a educação. Leia este valioso artigo ou leia
o livro dela (The Death and Life of the Great American School System): http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,nota-mais-alta-nao-e-educacao-melhor-imp-,589143.
E isso é sucesso? Basta um pequeno estudo junto aos conselhos de educação e aos
acadêmicos. Afinal de contas, para que eles servem? Quando se fala em ações em
interesse próprio e contaminado, ele deve estar falando dele mesmo. Basta ver o
quanto a rede pública diminuiu e o quanto a rede privada aumentou. Mais uma
vez, isso é sucesso?
A quem interessa uma juventude perdida? A
grupos que sobrevivem da ignorância alheia? Esses não querem ter foco nem
gestão. Não temos,
portanto, escolhas: é fazer ou fazer.
A ignorância de quem bate palmas
para o que aconteceu na educação fluminense nos últimos anos a quem interessa?
Porque justamente esse grupo que se perpetuou mais uma vez, chancelado pela
última eleição, está sobrevivendo dela.
A escola é e sempre será um
espaço político desde a sua criação na Grécia antiga!!! Todas foram chamadas a
construir e reconstruir constantemente seu projeto-POLÍTICO-pedagógico que
serve para nortear cada unidade escolar. Como assim o gestor não é uma questão
política? Ele hoje é uma marionete político dos governos que os colocam em cada escola. Democracia também se ensina na escola! Essa construção acabou no Rio
de Janeiro!!! Agora é o cumpra-se para que eu mostre meus números. Estão
acabando com o espaço público de pensamento!!!
Mas, pode deixar, senhor Risole/Coxinha,
a juventude não estará perdida enquanto houver professores antenados,
preocupados e ativos que não deixem que esse tipo de ação ganhe a aprovação e a
opinião da sociedade. Estamos de olho! E, nisso o senhor tem razão: é fazer ou
fazer... a nossa parte!
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